DREAM THEATER – Citibank Hall, RJ (20/03/2010)
Não dá para dizer que foi exatamente um dia de casa cheia no Citibank Hall, mas um público bastante razoável compareceu ao evento nessa noite de sábado. Razoável em número, mas impressionante em motivação. O local borbulhava com fãs de todas as idades, devidamente uniformizados com camisas que simbolizavam uma só paixão: o Dream Theater.
Esse público poderia ter sido imensamente maior, se não fosse, mais uma vez, o eterno drama dos valores exorbitantes dos ingressos de shows aqui no Rio de Janeiro. Ainda mais nessa ocasião, numa mesma semana em que tínhamos outros eventos de médio e grande porte, como o Guns N’ Roses (que infelizmente acabou sendo adiado), BB King e A-ha. Haja grana pra se apreciar a música que gosta…
E para a felicidade da galera, a noite já começou com uma grata surpresa. O Bigelf, banda de abertura “apadrinhada” por Mike Portnoy, deixou muita gente de queixo caído. Apresentando um rock progressivo bem setentista, o quarteto californiano arrancou aplausos e exclamações de admiração da platéia durante toda a sua performance. Bastante carismático e comunicativo, o vocalista e tecladista Damon Fox se mostrou empolgado por estar excursionando com o Dream Theater e tendo a oportunidade de tocar no Rio de Janeiro. Foi com um show bem amarrado e excelentes músicas que o Bigelf desceu do palco cumprindo muito bem o seu dever de deixar os fãs cariocas em ponto de bala para o que viria a seguir.
Não muito tempo depois, as luzes se apagaram e já se podia ver as silhuetas de Portnoy, Rudess, Myung e Petrucci posicionados no palco através das cortinas, que caíram quando a banda abriu a apresentação com “A Nightmare To Remember”, carro-chefe do álbum mais recente do Dream Theater, “Black Clouds And Silver Linings”. O delírio dos fãs foi completo com a entrada em cena do vocalista James LaBrie, que até esboçou um sorriso ao ser recebido pelo público carioca, algo raro em sua costumeira postura fria e distante.
Mas o que estava por vir tiraria ainda mais o fôlego da galera presente. As pessoas trocaram olhares incrédulos quando o Dream Theater lançou mão da incrível “The Mirror”, que sempre foi uma raridade nos set lists da banda, apesar de ser uma de suas melhores e mais idolatradas músicas.
Méritos para o baterista Mike Portnoy, que deu uma “modernizada” no arranjo da música, introduzindo algumas viradas, quebradas e paradinhas que produziram um efeito bem legal. Assim como ocorre no álbum “Awake”, “The Mirror” foi emendada com a faixa “Lie”, o que deixou muito marmanjo feliz que nem criança, ainda mais com um showzinho à parte, protagonizado pelo guitarrista John Petrucci.
Na seqüência, tivemos a ótima “A Rite of Passage”, mais uma do disco novo. Chegava então, a vez do solo do tecladista Jordan Rudess. Foi bem legal vê-lo solando e interagindo com uma animação dele mesmo, exibida no telão.
Bem criativo. O show havia chegado então à uma “barriga”, um momento em que seu ritmo caiu um pouco, por conta da configuração do repertório. A seqüência formada por “Sacrificed Sons”, “Solitary Shell” e “In The Name of God” foi um tanto cansativa, trazendo o clima do show para baixo. Talvez, o único pecado do Dream Theater na noite.
Para conduzir novamente o público às alturas, a resposta foi uma só: “Take The Time”. Uma das músicas mais adoradas da banda, que contou com a participação do público, cantando a plenos pulmões o cativante refrão. Ao final da música, mais um espetáculo à parte por conta de Petrucci e Rudess. A banda então deixou o palco para o tradicional “charminho” do bis, retornando com “The Count of Tuscany”. O Dream Theater tem encerrado os shows dessa turnê com essa música mas, sinceramente, não acredito que seja uma escolha muito sábia. E boa parte do público concorda com isso. O gosto de “quero mais” era inevitável.
Enfim, em termos gerais, o que se pode esperar de um concerto do Dream Theater? Com exceção do vocalista James LaBrie, temos quatro músicos que figuram entre os melhores do estilo em seus respectivos instrumentos. Temos uma banda experiente e incrivelmente competente, que oferece a certeza de uma performance tecnicamente perfeita. Mas dessa vez, a satisfação do público não foi completa. Obviamente que, para agradar a todos, nem um show de 4 horas de duração bastaria. Mas a opção da banda de lançar mão de um show longo com um set curto não foi das mais acertadas. Músicas compridas, solos estendidos e muitos “climas” são interessantes, mas não quando se baseia um set praticamente inteiro nessa premissa. Não foi um, nem dois. Muitos fãs manifestaram esse tipo de insatisfação ao final do show. Não foi exatamente uma decepção, longe disso. Mas em 2005 e 2008, o público carioca voltou para casa muito mais feliz.
Set List:
A Nightmate To Remember
The Mirror
Lie
A Rite Of Passage
Sacrificed Sons
Solitary Shell
In The Name God
Take The Time
The Count of Tuscany
Matéria: Rafaelo Sales
Fotos: Rodrigo Miguez