RITA LEE – Circo Voador, RJ (21/01/2012)

Circo Voador super/ultra/hiper lotado, fazendo jus a sua comemoração de 30 anos da fundação do espaço e em alto nível. O show da noite era nada mais nada menos com a rainha do rock’n’roll no Brasil: MISS RITA LEE! E em sua primeira apresentação na Lona Voadora!

O público formado por faixas etárias das mais diversas, parecia já saber que presenciaria um momento histórico. Meia noite em ponto, uma introdução em jazz com a banda entrando aos poucos e de sopetão, eis que RITA LEE JONES entra vociferando “Agora só Falta Você”, um dos grandes sucessos do TUTTI-FRUTTY (sua banda nos anos 70) e que a platéia inteira canta em uníssono! Arrepiante! O jogo estava ganho, fato!

“Vírus do Amor” manteve a pegada nas alturas e Rita se dirige ao fim da canção a platéia pela primeira vez, fazendo uma brincadeira com a sua idade e dizendo que a velhice quase não a deixa fazer o show daquela noite. Que tinha amanhecido com uma “séria” herpes labial, o que fez com que todos caíssem na gargalhada.

Suas backing vocals chamavam a atenção pela suntuosa beleza, mas a boa forma da “titia” chamou ainda mais e o público com toda sua sinceridade empunhou gritos de GOSTOSA, GOSTOSA, rs! No alto dos seus 64 anos, com calça de couro justa e camisa da MARILYN MONROE, tanto ela quanto o maridão (o guitarrista ROBERTO DE CARVALHO) impressionaram pela boa forma física. E nada mais apropriado do que ouvir “Saúde” na seqüência, com arranjo bem mais rock do que a gravação original, pop beirando a disco music.

Mais empolgação com essa que é uma das melhores letras da parceria LEE/ROBERTO DE CARVALHO. E vale ressaltar a projeção de caveiras diversas no telão, dando um clima de total humor negro a mensagem que a música passa. Telão este com clima de completa psicodelia em “Buana”, hit dos anos 80 e a exemplo de “Tititi” que veio na seqüência, com arranjo muito mais rock do que o original (parecia ser uma tendência daquela noite!). E vale destacar a excelente banda, com o filho da cantora, BETO LEE (apresentador do MULTISHOW) em uma das guitarras. “Atlântida”, uma de suas canções mais emblemáticas e que nunca saiu do repertório dos seus shows, surpreendentemente o público parecia desconhecer, baixando pela primeira vez a temperatura do show.

Quer dizer, em termos, pois a super lotação dava ares infernais ao local de tão quente que estava, como todo grande show de rock n’roll que se preze, rs. Na sequência, o cover de “A Hard Days Night” dos Beatles com arranjo mais lento e “bluesy”, que funcionou muito bem. Uma introdução com MISS LEE tocando flauta para emendar com “On the Rocks”, uma das maiores porradas do seu repertório, me surpreendeu também por não ser conhecida pela maior parte da platéia. Muito legal a projeção no telão com vários símbolos do rock (língua dos STONES, RAUL SEIXAS, guitarras das mais diversas, etc). O final da música com um duelo maravilhoso de guitarra entre pai e filho, arrepiou mais uma vez, emocionante…

“Banho de Espuma”, coladinha com “Chega Mais”, fez o coral do público chegar ao seu auge, simplesmente mal dava para ouvir a voz da nossa grande protagonista do espetáculo. Aliás, fica mais do que provado como o público é importante para que tenhamos um grande show, interação essa é fundamental! Experimentalismos diversos (impossível não se lembrar dos MUTANTES) para introduzir o clássico “Doce Vampiro”, protagonizando o momento “FREDDIE MERCURY no ROCK IN RIO” da noite, com RITA só regendo o maravilhoso coral da massa. Tocante!

A emoção já estava a mil e conseguiu chegar ao seu ápice total: em “Ovelha Negra”, além da participação na mesma intensidade que a anterior, o telão mostrou imagens belíssimas da nossa rainha em ordem cronológica, da infância até os dias de hoje. Algumas dessas mexeram deveras comigo, como já tinha dito na coluna “As mulheres do rock no Brasil”, RITA LEE foi meu primeiro símbolo sexual ainda na infância, rs. Mas eis que ela resolve no meio da canção anunciar a sua aposentadoria… Disse que estava muito feliz por ter toda aquela recepção no seu PENÚLTIMO show! Logicamente todos começaram a protestar aos brados, com gritos e acenos de NÃOOOOOOOOOOOOOOO! E emendando com o coro pungente de RITA LEE, RITA LEE, levando-a as lágrimas.

Esse que aqui vos escreve também chorou junto, não consegui me conter. Pra dar uma quebrada no gelo, contou sobre a sua participação no desfile de uma escola de samba de São Paulo que terá como tema o TROPICALISMO. E eis que a música culmina com mais um solo arrebatador de ROBERTO DE CARVALHO. Um piano com levada jazz apresenta “Lança Perfume”, com a anfitriã da noite fazendo uso de vários apitos com sons pra lá de exóticos. O show termina, o barulho é ensurdecedor e nessas horas é que vejo como o CIRCO VOADOR tem uma coisa mágica, parece que sempre o público ali dão o seu show a parte, e é claro, que o bis seria inevitável.

Depois daquela pausa para recuperar o fôlego, nossa estrela (de óculos 3D) e banda adentram ao palco para delírio da massa! E faz uma perguntinha básica para o povo: “O que vocês querem ouvir”? Foi quase unânime o coro de MUTANTES (sua primeira banda)! E tome a pérola “Ando Meio Desligado”, repleta de improvisos (ainda mais que não estava no set-list) e emendando com a “baladaça” “Mania de Você”, provocando beijos imediatos nos muitos casais presentes. A voz da cantora dá sinais de desgaste, mas o coro “endiabrado” da platéia numa canção tão terna, fez isso passar batidíssimo! Mas deu a volta por cima finalizando-a com um improviso vocal maravilhoso. Pensei em coisas como a força do rock’n’roll também na energia daquele local, que revigoraria qualquer um que estivesse no palco naquele momento, independentemente das circunstâncias.

“Erva Venenosa”, com LEE abusando da sua mais do que conhecida habitual performance, com direito a muita mímica com caretas diversas. Detonou tudo! E nada mais apropriado do que o encerramento com “Flagra” (que na letra fala de um final feliz), com várias imagens de filmes clássicos passando no telão. Saiu dizendo agora saber o porquê do CIRCO VOADOR ser considerado tão especial. Emoções diversas, barulho, calor humano, rock’n’roll no seu mais magistral momento. E a exemplo de Maurício Valadares, que afirmou hoje numa entrevista que RITA é muito “fogo na caldeira” para se aposentar, também acho que esse acontecimento no último sábado (21) vai demovê-la dessa idéia. E vida longa a RITA LEE! Quem perdeu, pode lamentar…

Texto: Alessandro Iglesias
Fotos: Lula Zeppeliano

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