Rocky Horror Picture Show: A Atualíssima e Desvairada Opera Rock
Os anos 70 geraram diversas “óperas rock”, das mais lembradas com certeza daria pra citar Hair, Tommy, The Wall, Jesus Christ Superstar, contudo, entre elas, talvez a mais emblemática e por que não desvairada, seria The Rocky Horror Picture Show, de 1975.
Sua direção cinematográfica coube ao australiano Jim Sharman e a sua roteirização deve-se a Richard O’Brien, encarnado num dos personagens chave da película.
Em suma, a peça parodia as produções baratas de ficção científica e terror, cuja “péssima qualidade” geraria posteriormente uma estética charmosa para cinéfilos e produtores independentes, não à toa a produção foi gravada no britânico Bray Studio, famoso pelos filmes do catálogo Hammer, muitas vezes estrelado pelo finado Christopher Lee.
Não somente temos sua roupagem decalcando o visual desse tipo de produção macabra como também o seu contemporâneo glam rock que também explorava o rock n’ roll clássico e extrapolava sua contestação sexual originalmente trazida.
É praticamente uma desconstrução do roteiro de Frankenstein ao mesmo tempo onde ocorrem inserções de outros filmes baratos e cenas musicais contendo baladinhas roqueiras. A princípio, o casal de noivos apaixonados Brad (Barry Bostwick) e Janet (Susan Sarandon) vão visitar seu professor universitário Dr. Everett (Johnatham Adams), mas o destino clichezaço faz o carro do casal ter seu pneu furado durante uma intensa tempestade, não menos sinistra que os bisonhos motociclistas cortando seu caminho pela estrada.
Isso faz Brad decidir parar num castelo contendo as tais motos suspeitas para os pombinhos refugiarem-se da chuva e pedirem um mecânico. Acontece que o castelo estava no auge de uma festa protagonizada pelo excêntrico Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry), um cientista transsexual da “Transylvania” (sacaram o trocadilho?) bastante interessado no casal e prestes a revelar um grande intento seu. Não somente Dr. Frank chama atenção na história, mas toda a sua criadagem (ou diríamos entourage?) composta pelo mordomo Riff Raff (Richard O’Brien) e as empregadas lascivas Magenta (Patricia Quinn) e Columbia (Nell Campbell).
Toda a estripulia absurda e a própria teimosia suspeita de Brad faz com que os noivos permaneçam no castelo durante a intensa noite submetidos a qualquer ameaça dos viventes no estranho lugar. Diferente do que veríamos num filme típico do gênero, a tal vulnerabilidade seria de cunho sexual e faz de Rocky Horror bastante ousado, pois até hoje levanta diversas discussões, embora o filme não se leve a sério.
O casal sofre a imposição da sociedade tradicionalista, Janet não pode expressar seus desejos, Brad precisa deter o controle de decisões e reprimir Janet quando possível, ambos não transparecem suas realizações. Quando chegam no castelo de Frank, Brad mantém certa insistência em ficar no lugar, mistura aquela estrutura do cara turrão permanecer no ambiente macabro ao mesmo tempo que todos são cativados pela excentricidade da festa.
Dr. Frank diz “que removeria a causa deles estarem ali” (tempestade), mas não “os sintomas”, seria uma alegoria para casais curiosos em se descobrirem sexualmente? É uma das várias perguntas que o filme deixa. A tal noite no lugar desdobra-se na grande busca de Frank-N-Furter, sua criação artificial e porque não brinquedo sexual “Rocky Horror” (Peter Hinwood) que dá nome a produção.
Rocky seria o amante perfeito que levaria Frank ao prazer máximo, porém o cientista e criados começariam a dissipar sua imagem “libertadora” para algo tão manipulador quanto a própria sociedade de mente fechada. Frank para alcançar seu desejo não mede esforços em manipular e descartar seus envolvidos na tal busca hedonista pelo prazer supremo. O que de fato daria para fazer um paralelo a certas estrelas do próprio cenário setentista do rock pós geração hippie.
Eu ainda poderia comentar a participação de Eddie, interpretado pelo músico Meat Loaf, um motociclista bad boy entregador que aparentemente teve algum relacionamento com Columbia mas torna-se vítima de Frank. A atitude não somente incomoda os sentimentos de Columbia, gamada no desvairado rufião como faz o próprio Dr. Everett, parente de Eddie ir até o castelo. Prefiro parar por aqui quanto aos detalhes da obra para não trazer mais revelações do que contei durante esta resenha. Não se preocupe, ela não compromete o filme, pois como falei, leva a diversas interpretações.
Para concluir, diria que uma obra tão audaz recebeu certa resistência nos cinemas a ponto de passar nas sessões da madrugada. Com todo esse eclipsamento por parte dos donos de cinema, o filme virou um clássico, fez com que frequentadores usassem a indumentária do filme durante as exibições; tornou-se figurinha carimbada nas temporadas de halloween e seu impacto seria decisivo na cena punk.