THE GIFT – Teatro Odisseia, RJ (26/10/2011)

Eu confesso que, neste veículo que me abrigou há alguns poucos meses, esta seria a minha 1a missão a qual o alvo das fotos e resenha não “era algo do meu interesse”, porém foi uma grata surpresa. Os lusos naturais de Alcobaça, do The Gift – que misturam synth pop dos anos 80 ( isto algo, algo de um certo agrado meu ), com indie rock moderno, uma pitadinha de pop, rock alternativo e experimental, com uma cereja do bolo retrô, no uso de instrumentos vintage – até que me surpreenderam, e bastante até. Somados a todos esses dados, está o ás da manga deles que é a frontwoman, cuja equação seria: Amy Winehouse [-] químicas [-] atitudes “bafônicas” = Sônia Tavares.

O recinto não estava lá muito cheio – bem diferente do que eles devem ter testemunhado no dia 23 de setembro, abertura do Rock in Rio 4 – mas o que tinha, parecia conhecer muito bem o set list, a carreira e as músicas do grupo que já tem seus 17 anos de rotatividade no mercado europeu/ibérico. Público este, cabe salientar, formado em boa parte de moças dos seus 20 e alguns aos 30 e poucos anos ( ok, ok, e alguns rapazes, ainda que namorados/maridos/ficantes ou uns reais entusiastas do som da banda).

O ponto positivo, ao menos para mim, que geralmente torce o nariz para composições na minha língua-mãe, é que tudo deles é cantado e escrito em ( bom ) inglês, o que resulta, se você fechar os olhos, num tele transporte para uma era quando as bandas synth-oriented começaram a admitir baterias acústicas ( e não mais pads eletrônicos, somente ), guitarras, baixos, timbres organicos de teclado, temperados por uma voz feminina muito grave, rouca, bluesy-jazzy, afinada e com presença ( não parecendo usar auto tuner, microfone com phantom power e outros recursos mais nefastos que fazem “artistinhas” de hoje em dia parecerem divas, não é Britney? ).

É bem possível notar influências do Brit pop, tal como Radiohead, synth pop como Depeche Mode, e claro, um “o quê” aqui e acolá do indie rock dos últimos 10 anos ( aí você leitor pode pegar sua “weapon of choice”, porque para mim, salvos alguns detalhes, as bandas soam deveras parecidas umas das outras ). Porém, é como falei, alguma coisa no meio dessa pizza “portuguesa”, com direito a todas coberturas, toppings, fez dela saborosa, de se ouvir, e por quê não, dançar?.

O grupo, originalmente um quarteto, formado pela citada Sônia, além daquele que é o líder e mastermind da sonoridade da banda, o tecladista principal Nuno Gonçalves ( com sua furiosa participação no solo de theremin ), o baixista e tecladista John Gonçalves ( irmão de Nuno ) e o guitarrista ( e ás vezes baixista, quando John assume o outro teclado ) Miguel Ribeiro, foi devidamente ancorado e aumentado pelo batera e produtor natural da cidade do Porto, Mário Barreiros, e mais dois guitarristas/tecladistas: Israel Costa Pereira, natural de Alcobaça também, e Paulo Praça, de Vila do Conde, todos obviamente da terra além Atlântico.

Confesso que, mesmo o som do local estando impecável ( feito que nunca pude observar nos shows de Heavy Metal, talvez porque o Odisséia, por mais acolhedor ao estilo que seja, não possui real estrutura acústica para tal ), não distingui a real necessidade de três guitarras, apesar de que raramente o trio estava funcionando ao mesmo tempo, visto que alguém sempre está em outro instrumento, como em outro teclado, baixo, etc. Porém, como sinceramente o que me importa é o resultado sonoro final, mesmo que essa quantidade de sintetizadores e guitarras soe dispensável em termos de arranjos para tanta coisa ao mesmo tempo, a massa e até um certo peso era facilmente sentido.

Mesmo com um público intimista num lugar bem menor que a Cidade do Rock no Recreio dos Bandeirantes – o que de certa forma “não vale”/ “não conta”, porque grandes festivais as pessoas estão lá para grandes atrações principais, e os “pequenos” acabam servindo como couvert, entrada, mas boa parte nem sabe do que se trata, até vê-los “de graça, pois está incluido no pacote mesmo” – de fato, o The Gift não precisou de esforço nenhum para cativar as cento e alguma coisa pessoas que se entregavam ao som dos gajos.

(Agradecer a Mary e Alessandra Debs, ao Guilherme Viotti da Matanay)

Texo e Fotos: Daniel Croce

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