Velvet Goldmine: O Extravagante Glam Rock

20 anos antes de Bohemian Rhapsody e Rocketman, o diretor Todd Haynes explorou os excessos dos rock stars setentistas em sua terceira produção chamada Velvet Goldmine.

Segundo os burburinhos da época, seria um filme sobre David Bowie. Pelo artista demonstrar interesse em produzir sua própria autobiografia, Todd em seu roteiro e direção decide decalcar “o cameleão” para seu personagem fictício “Brian Slade”.

A produção presta uma homenagem pomposa ao também extravagante glam rock. Entrelaça diversas ideias pretensiosas. Uma notória é de vários personagens serem amalgamados das bandas basilares deste subgênero.

A outra mais excêntrica envolve uma esmeralda extraterrestre predestinando seus portadores ao estrelato, um acréscimo fantasioso aludindo ao disco “The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars”. Uma última bem curiosa é da história fazer paralelo ao escritor irlandês Oscar Wilde, o teatro britânico de homens travestidos à vaidade excessiva chegando a ambiguidade sexual no rock britânico pós-psicodelia. Pelo visto, conceitos não faltaram, agora se todos eles funcionaram bem veremos daqui a pouco.

Tirando os rococós, a trama central é bem simplista: em 1984, o jornalista Arthur Stuart (Christian Bale) precisa fazer um artigo tapa buraco tentando desvendar o incidente ocorrido 10 anos antes com o astro Brian Slade (Jonathan Rhys Meyers). Ele teria simulado a morte durante seu show, numa tentativa desesperada por sucesso. A audiência o repudiou por isso, a ponto dele “desaparecer” do showbiz.

Arthur vai a procura dos antigos vínculos de Slade. Não apenas temos flashbacks contando trechos do astro, o próprio jornalista enfrenta suas lembranças e nota ter mais vínculo com a situação do que previa. Os personagens centrais giram em torno de uma figura mística, o Jack Fairy, na história, fundador do glam rock, também um dos proprietários da joia espacial. Brian Slade teria se influenciado em Jack, consequentemente Arthur na juventude vira seu fã ardoroso, a ponto disto gerar conflito com a sua sexualidade.

O filme em nenhum momento disfarça as fontes biográficas para a construção de seus personagens, seja Brian Slade copiando a trajetória de David Bowie, ou ainda de Curt Wild (Ewan McGregor) o Iggy Pop adaptado.

O roteiro vai mais longe, faz de Slade e Wild abertamente bissexuais, algo que Bowie foi refutando ao longo do tempo e que nunca foi conclusivo acerca de Iggy. O diretor parece atribuir essas orientações do Joabriath e Lou Reed respectivamente à Slade e Wild. Torna eles de vez um casal tempestuoso, fantasia essa que sempre orbitou a mente de alguns não satisfeitos deles serem apenas “colaboradores musicais vivendo em Berlim”. Apenas o jornalista Arthur possui uma história “original”, ainda que incubida de apresentar as contrapartes fictícias do T-Rex e New York Dolls.

Velvet Goldmine sofre altos e baixos durante sua condução. O discurso central está nos seus personagens emanciparem seu pensar e sexualidade das regras impostas pela sociedade para não dizer o repúdio que sofrem de alguns. O outro lado da moeda viria do descontrole desencadeado por essa busca libertária.

Pauta também existente nas cinebiografias de Elton John e Freddie Mercury. Infelizmente, o drama pende a uma espécie de sensacionalismo, tipo a obra de Oliver Stone acerca do grupo Doors. Algumas atuações soam de seriados “aborrescentes”, especialmente Ewan McGregor na sua caracterização esquisita de Iggy, salva-se apenas nas apresentações de palco.

O Christian Bale também é outro que soa cômico nos momentos dramáticos. A concentração de alegorias deixa a coisa pra lá de esquisita. A tal pedra mágica começa a se entrelaçar demais na trama principal e perde todo seu caráter filosófico. Ah, e como não falar na referência propositalmente explícita do Clássico Cidadão Kane durante sua narrativa? No fim das contas é tanta ideia que torna a trama simples soterrada nos exageros conceituais, desanda tudo.

Por outro lado, a equipe fez um bom trabalho na trilha sonora. Criam canções originais dos grupos fictícios e regravam alguns clássicos setentistas, excetuando é claro, sons do David Bowie. Teve a participação de gente do REM, Roxy Music, Sonic Youth e até o antigo Stooge, Ron Ashenton. Jonathan Rhys Meyers e Ewan McGregor cantam grande parte dessas composições ao invés de apenas serem dublados.

Chegando a um veredito, a quantidade carnavalesca de elementos escondem parte dos defeitos e até vexames. Segue de forma involuntária a megalomania dessa sub vertente musical, quase uma ópera rock falando sobre o David Bowie sem sequer explorar algum de seus sons. A ambientação do underground na primeira metade dos anos 70 é um dos pontos fortes e claro os hits daquele período. Velvet Goldmine parece um videoclipe gigante mais apelativo pela estética do que a sua qualidade narrativa.

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